2.2. Competências profissionais e culturais
As tarefas de desenho curricular que enunciámos
exigem determinadas competências que devem estar previstas na formação inicial
de professores e actualizadas em iniciativas de formação contínua. Estas
competências podem ser consideradas em dois grupos, as profissionais e
culturais.
2.2.1.
Competências culturais
Trata-se do conhecimento sobre o conteúdo
tecnológico que o professor tem de ensinar, o qual lhe permite formular objectivos
de conteúdo tecnológico e seleccionar e adaptar actividades de educação
tecnológica. Se recordarmos a situação dos países envolvidos
neste projecto (apresentada no Capítulo 1) não parece que este requisito esteja
cumprido no que à tecnologia diz respeito. Tanto os educadores como os
professores primários precisam de formação tecnológica simultaneamente um
objectivo e uma exigência do nosso projecto , pois dela depende o seu sucesso
ou fracasso.
Dois aspectos devem ser acrescentados. O primeiro tem a ver com as competências de design, construção e
experimentação que a cultura tecnológica exige. Uma
ampla formação prática que as desenvolva é tão ou mais importante que a que é
considerada necessária para as ciências experimentais. A experiência de oficina
ou laboratório tem, pois, de ser central na formação de professores de
tecnologia.
O segundo aspecto tem a ver com as dificuldades de
motivação para a tecnologia das raparigas (com a excepção das TIC), embora a
maior parte das educadoras e professoras do ensino primário sejam mulheres. É preciso uma atenção especial para diluir esta dinâmica negativa.
Relativamente às competências gerais dos
professores, gostaríamos de sublinhar que se torna imprescindível que estejam
preparados para educar para e num mundo em constante mudança. Eis por que o
aspecto mais importante da formação dos professores deveria ser a sua
capacidade de aprender.
Este aspecto leva-nos a um outro relacionado com a
atitude. Assim como é necessário desenvolver uma atitude positiva para com a
tecnologia, especialmente no que diz respeito às mulheres, também é preciso que
se adquira uma apreciação positiva do esforço de aprender. Demasiadas vezes na
nossa carreira de formadores de professores nos deparámos com estudantes que se
mostravam relutantes em aprender novos conteúdos culturais, como se
acreditassem que já sabiam o suficiente e estivessem apenas interessados em
ensinar o que sabiam. Não é um exagero afirmar que o prazer de aprender deveria
ser um pré-requisito para se ser professor, pois que, se não gostarmos de
aprender, como comunicaremos às crianças as atitudes positivas face à
aprendizagem?
2.2.2.
Competências profissionais
Os professores também têm de ter algum conhecimento
de psicologia, pedagogia e metodologia. Têm obviamente de conhecer as dimensões
do desenvolvimento cognitivo, afectivo e social das crianças, para que sejam
capazes de adaptar os conteúdos e as actividades às suas possibilidades e
compreender o significado do seu desempenho. A
competência profissional do professor tem de permitir-lhe ir mais além na
procura de formas de ensinar mais eficazes. Isto
implica formação básica em investigação educacional, o que se vem tornando
habitual na formação inicial de professores.
O conhecimento do quadro teórico psicológico e
pedagógico que orienta o desempenho do professor também é significativo. E,
quando dizemos significativo, referimo-nos a operativo porque, como
Formissano (1990) assinala, o que é realmente importante é saber como, no
plano operacional, se aplica, de forma coerente, o modelo teórico que o
professor escolheu como a referência cultural para o seu trabalho. Para usar
um exemplo do mesmo autor: se Vigotsky é uma referência para o professor é de
esperar que escolha actividades que priorizem a discussão e o trabalho de grupo
em qualquer área de conhecimento (incluindo a tecnologia) e não apenas na
expressão, pois conhece a importância que, na teoria de Vigotsky, é atribuída
às interacções sócio-cognitivas para a interiorização de conceitos
(primeiramente construídos e existentes nas interacções com outras crianças e
adultos, antes de existirem no pensamento individual).